CONTROLE
MOTOR
Para realizar qualquer
movimento, precisamos antes processar o que é preciso fazer para realizar tal
tarefa (por mais que isso parece ser muito simples!), e então, ativamos nosso
sistema nervoso central para nos auxiliar. Isso, basicamente, chamamos de
CONTROLE MOTOR, que por sua vez, pode ser divido em três níveis:
1)
Controle Motor Voluntário
2)
Controle Motor Automático
3)
Controle Motor Involuntário
Relembrando neuroanatomia:
Existe uma parte do sistema nervoso central que denominamos ARÉA PRÉ MOTORA,
que através de sequências de informação coordena nosso Controle Motor
Voluntário e Automático. Como funciona essa sequência de informações?
Esquematicamente, podemos simplificar assim:
1) Controle
Motor Voluntário
Quando
vamos executar algum movimento, a
primeira coisa a ser feita é o PLANEJAMENTO desse movimento. Essa informação se
divide por dois caminhos, um estímulo que vai para o córtex motor e um estímulo
que vai para o cerebelo. Do córtex motor esse estimulo segue a sequência da
figura das flechas azuis! OU SEJA: Antes mesmo do músculo receber o estímulo e
contrair, possuímos uma atividade PRÉ
MOTORA, que de certa forma, prepara o músculo para a execução do movimento
planejado. Quando o músculo é contraído, ocorre a ativação de estruturas sensoriais
(veja as flechas amarelas!), é uma forma de o músculo informar como foi o
resultado do movimento executado. Aí que vem a função do Cerebelo no nosso
esquema: Comparar informações. Como assim? Basicamente ele compara o comando
enviado – ação idealizada - (flechas azuis) com a resposta recebida - ação realizada- (flechas amarelas). Mas
porque o cerebelo reenvia essa comparação ao córtex? Pois a ação idealizada
NUNCA é igual a realizada, isto é, sempre cometemos alguns ‘errinhos de
execução’ e então, cabe ao Córtex corrigir esses erros, para que o nosso
movimento seja o mais preciso possível.
ATENÇÃO!
Lesões cerebelares:
O
individuo com lesão cerebelar possui o chamado GESTO ERRÁTICO, ou seja, perde a
capacidade a ajustar o movimento, e “corrigir” aqueles erros que comentamos
anteriormente.
2) Controle
Motor Automático
MOVIMENTO
VOLUNTÁRIO -> MOVIMENTO AUTOMÁTICO
A partir de determinadas
repetições, o tal “Planejamento” desaparece, isto é: perdemos a necessidade de
planejar aquele movimento, e ele passa a ser Automático, é assim que passamos a
utilizar apenas a parte da TÁTICA E DA
EXECUÇÃO do movimento, representadas no esquema acima.
. Para entender melhor,
vamos utilizar um exemplo que todos já
vivenciamos: Aprender a caminhar. Caminhar é um gesto planejado ou automático?
HOJE, ele é automático, mas nem sempre foi assim. Quando não tínhamos prática:
planejamos diversas vezes, erramos muuuito até conseguir formar um padrão de
movimento que nos mantivesse em pé. Depois de repetir diversas vezes, sim!
DIVERSAS VEZES, até atingir uma via
eficiente e conseguirmos dar o primeiro passo e depois evoluir de marcha
rudimentar para uma marcha madura, criamos o nosso ENGRAMA da marcha, e o nosso
ato de “caminhar” passa a ser automático onde o nível de planejamento passa a ser
desnecessário.
ENGRAMA. O QUE É UM
ENGRAMA? Simplificadamente, Engrama é a forma que o nosso sistema nervoso
encontrou para armazenar memórias, e assim, automatizar nossos gestos
cotidianos. Assim, podemos definir: quanto mais Engramas criamos, mais
vocabulário motor nós temos, e assim, melhor executados são os nossos gestos.
QUAL A IMPORTÂNCIA DE OBTER UM BOM VOCÁBULÁRIO MOTOR?
- Clínica: Recuperação de
Acidentes Vasculares Cerebrais. Quanto mais execução,repetição,execução, mais
engramas o paciente consegue formar, através do que chamamos de PLASTICIDADE
NEURAL: Capacidade que os neurônios têm
de substituir neurônios que morreram.
-
Esporte: Quanto mais engramas o atleta possui, mais habilidade ele tem para lidar
com situações inesperadas. E para atingir esse nível o que é preciso? MUITA
REPETIÇÃO! Quanto mais repetição, mais natural, mais automático fica o gesto!
3)
Controle Motor Involuntário
Vias involuntárias – Arcos
Reflexos. Diferentemente do que discutimos acima, os arcos reflexos não
dependem da ativação das vias superiores (vias corticais), mas sim vias
inferiores (ao nível da medula). São três os principais arcos reflexos.
De
modo simples e prático, explicaremos os três reflexos.
REFLEXO
MIOTÁTICO
É
um reflexo involuntário ativado por um órgão sensorial chamado Fuso Muscular. O
fuso muscular é um proprioceptor que fica a localizado entre as fibras
musculares e dá a ideia sobre comprimento do músculo. Sua organização é em
paralelo com as fibras do músculo.
Imagem esquemática de como
está locolizado o fuso muscular: o fuso possui capsula fibrosa e também é
formado por fibras musculares, mas suas fibras
são modificadas, e praticamente não possuem capacidade contrátil.
O Reflexo Miotático ocorre graças a um
estiramento do fuso: Quando um músculo é estirado (alongado) é disparado um
potencial de ação, que chega até o H medular através de uma fibra nervosa do
tipo Ia e faz uma ÚNICA sinapse com uma fibra nervosa do tipo Alfa, que é um Motoneurônio
proveniente do músculo que foi estirado!
1º ESTÍMULO DO NEURÔNIO AFERENTE IA
2º VAI
ATÉ O H MEDULAR
3º RECEBE UM ESTIMULO ATRAVÉS DO INTERNEURONIO
MOTOR ALFA
4º CONTRAÇÃO DO MUSCULO ESTIRADO.
RESPOSTA
PRINCIPAL DO REFLEXO MIOTÁTICO: CONTRAÇÃO DO MÚSCULO ESTIRADO!
Exemplo: Reflexo Patelar. Estiramento do quadríceps, faz ativação do do fuso, que em resposta provoca contração do músculo antes estirando! Exemplos práticos do Reflexo Miotático: Musculatura cervical e musculatura postural!
O fuso muscular também está diretamente ligado com o tônus muscular: Indivíduos que apresentam HIPERTONIA (excesso de tônus) têm hiperatividade do reflexo miotático, enquanto que, indivíduos que apresentam HIPOTONIA tem diminuição do reflexo miotático.
APLICAÇÃO
PRÁTICA DO REFLEXO MIOTÁTICO EM TREINAMENTOS E EXERCÍCIO FÍSICO: PLIOMETRIA.
É possível,
voluntariamente, ativar um arco reflexo? Sim.
Os saltos em altura partem
de uma altura inicial, quando o indivíduo realizar extensão total dos membros
inferiores e sofrer o impacto no chão, ele ativará o reflexo miotático tanto
voluntaria quando involuntariamente, e isso, POTENCIALIZARÁ O SALTO, já que a
resposta do reflexo miotático será de flexão dos membros inferiores!
REFLEXO
MIOTÁTICO INVERSO
É
considerado um reflexo de PROTEÇÃO. Pois sua ativação evita lesões quando
ocorrem contrações excessivas de um músculo. Esse reflexo é ativado pelo OTG (Orgão
Tendionoso de Golgi).
O OTG está presente nos
tendões e transmite a ideia de FORÇA (TENSÃO) gerada pelo músculo e encontra-se em série com as fibras do músculo.
O reflexo miotático
inverso é dissinaptico, pois: Quando o OTG é acionado, ele envia um estímulo
que quando chega na medula, faz DUAS SINAPSES. Uma sinapse INIBITÓRIA para a
musculatura AGONISTA e a segunda sinapse EXCITATÓRIA para a musculatura
ANTAGONISTA, a fim de proteger a musculatura de alguma lesão.
ATENÇÃO:
veja que o reflexo miotático e o reflexo miotático inverso são
antagônicos mas possuem a mesma função, que é de PROTEGER
determinada estrutura. Qual deles utilizamos mais? bom.. isso é
difícil determinar, mas uma coisa podemos dizer: geralmente ambos
reflexos são ativados em sequência, primeiro é ativado o reflexo
miotático, e sem seguida, é ativado o reflexo miotático inverso.
REFLEXO FLEXOR OU DE RETIRADA
O
meio de ativação desse reflexo é um estímulo nociceptivo, ou seja, é um
estimulo de dor.
Exemplo! Quando pisamos em
um prego
Um
estímulo nociceptivo chega até a medula, e lá faz polisinapses:
Sinapses que no lado ipsilateral (membro lesado) excitam
a musculatura flexora do membro, e também faz sinapses que inibem a
musculatura extensora do membro. Isso tudo para que? Para que assim,
de maneira involuntária ( = rápida) a gente consiga proteger aquele
membro que recebeu estímulo nociceptivo! Do lado contralateral
ocorre o oposto: sinapses que excitam musculatura extensora e
sinapses que inibem a musculatura flexora. Mas por que isso ocorre?
Resquício do processo filogenético. Quando éramos quadrúpedes,
era necessário que o membro contralateral permanece estendido, para
que toda a vez que fosse ativado o reflexo flexor conseguimos nos
manter, sem cair.Tanto no passado, quanto hoje, o que seria da gente
sem o reflexo flexor?
A figura abaixo faz uma comparação da circuitaria nervosa do reflexo miotático e do reflexo flexor.
Homúnculo Motor de Penfield: Desenvolvido por um neurocirurgião canadense chamado Wilder Penfield, o homúnculo é a representação de um homem deformado com regiões do corpo muito maiores do que as outras, mostrando assim, a proporcionalidade entre as áreas do corpo: as áreas de maior tamanho são as que mais apresentam precisão de movimento (no homúnculo motor) e as que mais apresentam receptores sensoriais ( no homúnculo sensorial). O homúnculo é de grande importância para que consigamos entender a relação do córtex motor com os movimentos do corpo humano.
A figura abaixo faz uma comparação da circuitaria nervosa do reflexo miotático e do reflexo flexor.